sexta-feira, 13 de abril de 2012

Morria, dia após dia


Pela vidraça a mulher idosa passava todas as tardes ociosas de sua aposentadoria, todo dia ás quinze para as seis da tarde observava a correria da cidade que arde naquele verão. Olhava tanto pela janela, que poderia dizer que a janela eram os olhos de sua alma. Curioso um jovem que sempre passava pensava ‘porque tal senhora perde tempo com a cidade cinza que contrasta com a cor da pele brasileira, alaranjada’.  Sem nenhuma resposta o interlocutor que vos fala contara o que se passa por baixo de tantas rugas, de tantas marcas: A senhora olhava tanto para fora que esquecia do que havia  dentro de si, e então toda tarde resmungava: Calma, a cidade não vai parar se  vocês andarem cada vez mais devagar. E depois sorria quando seu amor da juventude passava e pensava:  Poderia ter me arriscado mais, tentado mais, egoísta que sou desisto fácil. Mas tão bom quanto foi, jamais foi outro alguém. Continuava sorrindo, mas amargurada por ser tão fraca, egoísta e introvertida. Não deixava que ninguém entrasse completamente em seu mundo, em sua vida. Por fim conseguiu olhar a fundo, a si mesma. Então descobriu o quanto deixou de viver, por ser, por se posicionar de forma que ninguém a machucaria. Observou seu apartamento, cheio de gatos e o cheiro de sopa que exalava no ar, sentiu pena de si mesma. Morreu de angustia, mais uma vez, dia após dia, morria.

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